Há não muito tempo, aqui mesmo na nossa galáxia, a desenvolvedora Respawn surpreendeu a todos com Star Wars: Jedi Fallen Order, uma aventura single player com qualidade bem superior aos demais jogos da franquia que a EA vinha lançando até então. Pouco mais de três anos depois, o estúdio contra-ataca com Jedi Survivor, mais uma história protagonizada pelo nosso herói Cal Kestis.
Por mais querido que o jogo original fosse, bastava conversar um pouco com o público para ouvir alguns feedbacks bem comuns e acertados reclamando do seu sistema de mapas e do design dos cenários, especialmente. Um pouco mais de profundidade nos combates também não faria mal a ninguém, ou quem sabe maior variedade na exploração e missões paralelas, sem tantos daqueles templos meio genéricos que mais pareciam sobras de Zelda?
Independente do que você acha de Fallen Order, uma coisa é certa: o feedback foi ouvido com clareza pelos desenvolvedores, e basicamente todos os pontos bons do jogo foram mantidos, enquanto os seus problemas deram passos substanciais na direção certa rumo a correção. E é isso que nós vamos esmiuçar na nossa análise completa a seguir!
O retorno de Jedi
Vamos começar pelo simples, até porque isso endossa o que eu já vinha falando: se você gostou do primeiro jogo, não precisa pensar duas vezes antes de cair de cabeça em Jedi Survivor. Afinal, tudo o que você mais gostava continua lá, só que agora maior, melhor e mais polido. Em muitos sentidos, Star Wars Jedi: Survivor é uma aula de sequência, pois sabe preservar a experiência do original e potencializar os seus acertos, mais ou menos como séries lendárias na linha de Mega Man e Contra faziam antigamente.
É tudo familiar o bastante ao ponto de você sentir a coesão e poder reaproveitar a sua memória muscular, mas a exploração também transpira novidades, especialmente pela forma como os mapas foram repensados. Ainda existe verticalidade na exploração aqui e ali, mas no geral os terrenos estão muito mais vastos, horizontais e simples de investigar, saltar e lutar. E, com isso, também ficou mais fácil encontrar o seu caminho ao invés de andar em círculos em backtracking frustrante. Agora tem até viagem rápida entre um ponto de meditação e outro, o que é uma mão na roda!
Agora, se você não gostava do game original, será que dá para curtir Jedi Survivor? Olha, talvez sim?! Porque ainda que a base do seu gameplay ainda gire ao redor das mesmas coisas, agora parece mais fácil recomendar o título para os fãs de ação e até mesmo de plataforma, já que esses elementos receberam uma ênfase maior, com direito a muitos saltos precisos, corridas pelas paredes e usos criativos da força para abrir caminhos. Fãs de aventura em geral provavelmente deveriam deixar essa história no seu radar.
Aliás, falando em história, infelizmente eu não posso comentar muito sobre ela devido a algumas diretrizes de embargo bem rígidas por parte da EA. Fico de mãos atadas e não quero ver um Wookie advogado vindo aqui na redação me partir em pedaços por falar demais! Lá pela sexta ou sétima hora da campanha (dependendo do seu ritmo e estilo de jogo), acontece um grande evento que norteia a narrativa, e a gente não pode comentar sobre ele e nem sobre os demais planetas que são explorados a seguir. O que até faz sentido, já que são revelações bem grandes mesmo.
A força está com a Respawn
Dentro dos limites do embargo, o que você precisa saber — e que podemos falar — sobre a trama é que ela se passa alguns anos depois de Fallen Order, agora com o nosso grupo de heróis separado, cada um em um canto da galáxia cuidando de seus próprios interesses e afazeres.
Quando reencontramos o Cal, ele está no meio de uma missão em Coruscant com novos aliados e inimigos, mas não demora muito até termos acesso a outros planetas e narrativas de gigantesca escala. É só até aí que podemos ir, mas eu adianto que se você gosta do lore, referências e easter eggs de Star Wars, vai encontrar muitos motivos para sorrir de orelha a orelha com o cuidado e capricho com que os personagens e temas foram trabalhados em Jedi Survivor.
Isso é refletido até mesmo na hora de customizar o seu sabre de luz, o que já era possível antigamente, mas agora com muito mais opções de cores, designs e até mesmo posturas de combate. O droide BD-1 e o Cal Kestis também podem ter cada detalhe dos seus acessórios alterados à vontade, com uma boa variedade de roupas e cortes de cabelo, o que acaba sendo divertido. Eu botei uma roupinha diferente em cada planeta que visitei, e isso ajudou a aumentar o meu sentimento de estar lendo uma saga diferente dos quadrinhos de Star Wars a cada nova missão.
Você também tem uma ampla variedade de colecionáveis para pegar ao longo da exploração, desde escanear objetos com o BD a fim de aprender um pouco mais sobre o lore, ouvir ecos da força para ouvir sobre o passado, pegar aprimoramentos de vida, seguir rumores obtidos com NPCs em busca de missões paralelas, e até mesmo cuidar de jardins, e tudo isso ajuda a tornar o mapa mais vivo e instigante, além de aumentar o fator replay.
Deixe a força te guiar
Também ajuda bastante que o mapa holográfico deixe desenhado os caminhos que você percorreu recentemente, permita colocar marcadores, e até mesmo possa habilitar recursos de navegação deixando claro para onde ir a seguir, evitando ficar encalhado. Nos meus testes, isso funcionou bem na maior parte do tempo, mas nem sempre. Às vezes o indicador insistia em marcar um certo ponto quando a rota certa era em outro sentido, mas na maior parte do tempo isso ajudava muito mais do que atrapalhava.
Vale pontuar que, ainda que o mapa tenha passado por muitas melhorias e seja substancialmente mais simples navegar por ele agora, ainda não é um tema que a Respawn dominou completamente, com rotas confusas e algumas ligações meio toscas entre elas. De certa forma, o mesmo vale para o combate, que mesmo gozando de coreografias mais ricas e maior variedade de golpes, ainda não tem a profundidade e precisão que deveria ter. Em métricas desse universo, é como se a desenvolvedora ainda fosse uma aprendiz padawan nesses temas.
Inclusive a galera mais versada no gênero deveria jogar de cara nas dificuldades mais altas. Eu comecei a minha campanha no normal e acabei nem morrendo, já que você é um pouco poderoso demais e conta com muitos auxílios mesmo antes de investir nas árvores de habilidade com talentos ativos e passivos. É legal que você possa customizar as janelas de parry e dano como bem entender, mas dá um pouco de trabalho deixar o jogo com a dose exata de desafio que você busca.
Outro aspecto bem legal e digno de nota, embora escape bastante da minha área de conhecimento e especialidade, é que claramente houve um grande esforço para trazer o máximo possível de ferramentas e opções de acessibilidade nos mais variados pontos, uma área que ajuda mais gente a se divertir com videogame em sua plenitude e que certamente deveria ser a regra para grandes produções triplo A.
Também merecem elogios a direção de arte, que ajudou a dar vida a planetas de tirar o fôlego, e o polimento geral do produto. Mesmo antes do patch day one, eu não encontrei grandes bugs ou travamentos, algo que foi bastante comum ao longo da minha zeratina de Fallen Order. Mas isso também tem um custo, e o jogo come mais de 150 GB do seu HD na hora da instalação, então tenha isso em mente quando for jogar!
Vale a pena jogar?
Star Wars Jedi Survivor não reinventa a roda de forma alguma, mas também não precisava fazer isso. O que ele faz, e faz muito bem, é entregar mais do que os fãs já gostavam, agora em um pacote ainda mais bonito e melhor acabado, com mais coisas para fazer e toneladas de referências à saga espacial criada por George Lucas. É evidente a tentativa de ouvir o feedback dos jogadores e tentar resolver todos os problemas de antigamente.
Ainda que o resultado final não seja impecável, com um mapa ocasionalmente confuso e combate um tanto raso, o fato é que essa é uma legítima experiência triple A, com trilha sonora e visual embasbacantes, além de puzzles ambientais mais inteligentes e melhor espalhados. É uma excelente aventura e todos que gostaram em algum nível do game anterior deveriam embarcar nessa jornada. Uma surpresa, com certeza, mas uma muito bem-vinda!
Pontos positivos
- Melhora absolutamente tudo do Fallen Order
- Excelente trilha sonora
- Atividades e colecionáveis bem distribuídos
- Ótima localização e dublagem
- Toneladas de opções de acessibilidade
- Tem o puro feeling de Star Wars
Pontos negativos
- Mapas ainda podem ser meio confusos
- Combates fáceis demais